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A Nova Onda de Pessoas Se Identificando Como Animais: O Que Isso Diz Sobre Nossa Sociedade e a Criação dos Filhos?

Nos últimos anos, surgiu um fenômeno que tem gerado discussões acaloradas: a onda de pessoas em sua maioria jovens e adolescentes que afirmam se identificar como animais.

O tema pode parecer excêntrico à primeira vista, mas, quando olhamos de perto, essa identificação com o “espírito animal” traz reflexões profundas sobre identidade, saúde mental e criação de filhos. Hoje, vamos desvendar o que pode estar por trás dessa tendência e explorar as implicações psicológicas, sociais e familiares desse comportamento. Sou Claudina Granzotto, escritora e terapeuta, e hoje vou compartilhar um pouco do meu olhar sobre essa questão.

A Identificação Como Animal: Um Distúrbio ou uma Manifestação de Identidade?

Para muitos, a ideia de uma pessoa se identificar como um animal é algo incompreensível e até preocupante. No entanto, do ponto de vista psicológico, isso se alinha a um conceito conhecido como species dysphoria, ou “disforia de espécie”. A disforia de espécie é considerada um tipo de distúrbio em que o indivíduo sente que pertence a uma outra espécie, em vez de se identificar como humano. É um fenômeno raro, mas a internet e as redes sociais têm dado mais visibilidade a essa questão, tornando-o mais presente em nossa cultura popular.

Em alguns casos, essa identificação pode ser inofensiva, servindo como uma forma de autoexpressão. Em outros, porém, pode ser um sintoma de um problema mais profundo. Segundo um estudo publicado no Journal of Adolescent Health, adolescentes que demonstram comportamento dissociativo ou identificações não convencionais muitas vezes fazem isso como uma maneira de lidar com traumas, ansiedade e dificuldades de autoestima. Esse é um tema sério, e entender o que pode estar motivando esses comportamentos é essencial para oferecer o suporte necessário.

Para entender melhor o comportamento de pessoas que se identificam como animais, é importante conhecer o termo Therianthropy, que é usado para descrever aqueles que sentem uma identificação parcial ou total com outra espécie, especialmente no campo psicológico e cultural. Este conceito também está relacionado ao fenômeno da species dysphoria(disforia de espécie), que se refere ao desconforto emocional intenso de alguém ao se identificar como humano. Este fenômeno é mais comum em adolescentes, especialmente em busca de autoidentificação ou pertencimento em um grupo.

Estudos em psicologia sugerem que essa autoidentificação pode estar associada a questões de ansiedade, isolamento ou mesmo de construção de identidade em ambientes desafiadores. Quando levada ao extremo, a disforia de espécie ou identificação como otherkin – um termo mais amplo que inclui tanto identificação com animais quanto com entidades mitológicas – pode se tornar uma fuga psicológica, uma espécie de estratégia de enfrentamento para lidar com dificuldades emocionais, familiares ou sociais.

A Influência do Meio e o Papel dos Pais

É inegável que o ambiente familiar e o contexto de criação desempenham um papel crucial no desenvolvimento da identidade dos filhos. Crianças e adolescentes absorvem comportamentos e valores observados dentro de casa e os interpretam de maneiras únicas. Em uma sociedade onde o acesso à informação e à autoexpressão é amplamente incentivado, especialmente nas redes sociais, muitos jovens buscam formas alternativas de se autoidentificar.

Para os pais, a criação de filhos em um mundo hiperconectado requer diálogo, atenção e, sobretudo, respeito.

O que leva uma criança a sentir necessidade de se identificar como um animal pode estar relacionado a uma carência de validação em casa ou a um desejo de se conectar com outros que compartilhem suas experiências. Portanto, é importante questionar se essa identificação se trata de uma fase de experimentação ou de algo mais complexo. Estudos mostram que, quando os pais dialogam abertamente sobre questões de identidade e promovem um ambiente de aceitação, os jovens se sentem mais seguros para expressar quem são de uma maneira saudável”

Claudina Granzotto

Consequências Psicológicas e Sociais

Há várias implicações psicológicas em identificar-se como animal, especialmente se o jovem usa isso como uma fuga de conflitos emocionais.

A Identificação com Animal: Um distúrbio ou uma Manifestação de identidade?

Para alguns adolescentes, essa identificação pode servir como uma maneira de estabelecer fronteiras, uma vez que assumir uma “persona animal” pode fazer com que se sintam mais protegidos de julgamentos e expectativas sociais. Isso pode gerar um ciclo de isolamento social, dificultando interações sociais genuínas e o desenvolvimento de habilidades interpessoais.

“As consequências para o futuro também são uma preocupação legítima, principalmente se o jovem não recebe apoio psicológico adequado. Sem orientação, é possível que leve comportamentos de isolamento ou desconexão com a realidade para a vida adulta, dificultando tanto relacionamentos pessoais quanto profissionais. Estudos da American Psychological Association (APA) sugerem que o apoio terapêutico é eficaz para ajudar esses jovens a equilibrar suas identidades e a compreender a origem de suas angústias”

Como Buscar Ajuda e Encontrar um Equilíbrio

Para os pais e responsáveis que percebem esse comportamento nos filhos, é importante não reagir com julgamento ou repressão, mas sim buscar entender o que está por trás dessa necessidade de identificação. Ter um diálogo aberto sobre as possíveis causas e oferecer apoio emocional é fundamental. A ajuda de um psicólogo pode ser essencial para identificar se essa identificação com um animal é uma busca temporária por pertencimento ou se há uma questão emocional mais complexa envolvida.

Ter uma abordagem empática e não-restritiva pode ajudar o jovem a se sentir mais confortável para explorar e, eventualmente, entender melhor as razões que o levam a adotar essa identidade. Para muitos, a adolescência é um período de “experimentos” de identidade, e é necessário um apoio sensível que valide suas experiências sem incentivo à alienação.

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Conclusão: Construindo uma Identidade Saudável

A identificação com animais pode ser um reflexo das complexidades da sociedade contemporânea e das dificuldades que os jovens enfrentam ao buscar pertencimento e identidade. Com a orientação e o apoio certos, é possível ajudar esses jovens a construir uma identidade baseada em segurança e autoconfiança. Em um mundo onde expressões de identidade estão em constante evolução, cabe a nós, como pais, educadores e profissionais da saúde mental, proporcionar um ambiente que acolha e guie esses indivíduos com empatia e compreensão.

Afinal, todos nós, em algum momento, buscamos nossa “tribo” e enfrentamos questionamentos internos sobre quem realmente somos. Esses jovens estão fazendo exatamente isso, mas cabe a nós oferecer uma base segura para que possam se encontrar, sem perder a essência de sua própria humanidade.

Por: Claudina Granzotto (Escritora, NeuroPedagoga e Psicoterapeuta)

Com carinho by Olimão

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